domingo, 3 de novembro de 2013

Por que eu não preciso de aventuras

Um dia desses (pausa no texto para lembrar do dia porque quando a idade chega não tem como se salvar), quer dizer, na quarta, no curso de inglês, estávamos falando de mudanças e chega até ser engraçado falar disso na minha frente, porque na minha vida só ocorre uma mudança anual: a de anos vividos. Dizendo isso, não com essas palavras, ao professor, para justificar que não, não era porque eu não queria falar, era só porque não existe mesmo o que falar, ele começou com o conselho que eu já recebi inúmeras vezes na vida: get yourself a life. A única que não me manda sair, me divertir, curtir a vida enquanto sou jovem e tenho tempo é minha mãe. Excetuando-a, todos me olham embasbacados quando descobrem que minha vida se passa em casa, assistindo a uma boa série e lendo um bom livro. Só porque: o melhor lugar do mundo é a minha casa.

Disseram logo lá no curso: ela vai escrever sobre isso no blog. Vou mesmo. Não é comum que eu vire tópico de conversação durante tanto tempo assim, como foi na quarta, quando o professor embalado por tentar me fazer sair e ter finalmente (finalmente!) algo para compartilhar com eles contou algumas de suas aventuras como a pessoa louca que ele é. E eu descobrir algo, inclusive: adoro aventuras, mas as dos outros.

Não me imagino, sinceramente, saindo sem rumo por aí, sem dinheiro, sem comida, sem um roteiro na mão querendo viver uma aventura. Provavelmente eu cairia no choro e daria adeus ao mundo, à família, ao blog, porque voltar viva para casa, com toda essa minha inexistente coragem, seria um milagre. Não gosto nem de confusões, porque meu coração acelera e eu penso que alguém vai sacar uma arma, atirar e o tiro vai me matar lentamente porque a ambulância não chegará a tempo devido o congestionamento, quiçá viver horas e horas à base de adrenalina. Ou seja, vida de aventura: não para mim, thanks.

Entretanto, ninguém nunca poderá dizer que eu não vivi uma aventura sequer na minha vida. Vivi muitas, mas alheias. Cada livro é uma aventura. Cada filme é uma aventura. Conversas travadas também podem ser aventuras. E, veja só que delícia: eu não preciso sair de casa para viver essas. Elas são até um pouco minhas, afinal. Não reclamo nem nada, já que sou assim e certamente assim serei até o meu último suspiro. Prefiro a minha casa a festas. Prefiro sair com quem é meu amigo há muito tempo a tentar arranjar outros novos. Prefiro uma vida calma a aventuras. Se isso é incomum aos dezesseis anos, o problema não é meu. Aliás, o problema não é de ninguém porque problemas não precisam de donos. Cada um é do jeito que é. Eu não vou mudar para me enturmar e ser socialmente aceita porque, para mim, a felicidade está aqui mesmo, na exclusão, no ser "diferente". Acho muito legal quem tem esse espírito aventureiro e sai por aí sem medo de nada, passaria horas e horas ouvindo histórias vividas por gente assim, mas sou diferente. E vou continuar sem coisas para contar nas aulas de inglês. Sorry, teacher.

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