domingo, 4 de agosto de 2013

Sobre o Bento e sua idiotice


Quando eu li Dom Casmurro pela primeira vez, aos 14 anos, achei um porre e não é porque Machado de Assis é Machado de Assis que eu vou negar o acontecido. A leitura me foi enfadonha e eu me arrastei o máximo que pude, porque achei Bentinho um chato e não estava muito interessada na fidelidade de Capitu, pra ser sincera.
Passados dois anos, eu reli o romance e, apesar de continuar achando Bentinho uma das pessoas mais chatas da ficção, li o livro rapidinho e tenho de admitir: o livro pode ser tudo, menos enfadonho. E Machado de Assis é uma das pessoas mais incríveis cuja honra de conhecer nunca terei. Não só por escrever de uma maneira incrível, mas por fazer do leitor seu amigo mais íntimo.
Só que eu não vim falar do Machado, até porque não tenho cacife para tal, mas sim da raiva extrema que me dá a ao menos escutar o nome Bento Santiago. E digo mais: não, ele não amava Capitu. 
Eu já escutei várias vezes que o tema central do livro não é a dúvida se ocorreu ou não a traição, mas esse é o tema central desse post, então, vamos hipoteticamente pensar que a garota o tenha traído mesmo. Vamos fingir que o Escobar lindo e cheiroso a tenha seduzido e ela tenha consentido em manter algumas relações secretas com ele. Não é novidade que eles tenham aprendido a gostar um do outro; devido a tanta convivência, até mesmo Bentinho sentiu-se meio inclinado a pensar em Sancha. Agora, se houve mesmo essa traição, Capitu não esperava que surgisse um filho dela, certamente. Ao milagrosamente num dia acordar e perceber - assim, de uma hora para outra mesmo - que o pequeno era a cara do amigo, Bentinho passar a tratar com ódio e repulsa a mulher e o pequeno Ezequiel.
Ele ao menos tirou satisfação com a esposa, nem a quis mais olhar na cara. Se ela mesmo o traiu, ele sequer quis saber os motivos, perguntar se estava arrependida. O ciúme o fez mais cego que uma porta. O que ele queria, na verdade, era aqueles olhos de ressaca voltados para si e somente para si. Ele não a amava, ele ouviu da boca de terceiros que a amava e acreditou. E eu digo isso baseada num fato: ele não a perdoou.
Quando a gente gosta de alguém, a gente perdoa um monte de coisas. Coisas que nos incomodam nos outros, não incomodam naquela pessoa. E se ela faz algo errado, a gente tenta compreender o porquê daquilo. E depois, se a explicação for convincente, a gente perdoa. Perdoa até vezes demais. 
Mas Bentinho não dá segunda chance a Capitu, acho que todos já conhecem a história. Ele, metido e mimado, castiga-a com sua ausência e indiferença, achando que todas as suas proposições eram verdadeiras e que Capitu já tinha tido sorte demais por ter casado com alguém tão distinto quanto ele. Daí ele vira um casmurro e ela morre esquecida.
Tudo teria sido tão diferente se ele a tivesse amado realmente! Não tivesse só balbuciado essas palavras quando estava encantado com os olhos de cigana oblíqua e dissimulada da outra, mas tivesse provado. Talvez ela nem o tivesse traído e ele teria se sentido um bobo por ter pensado mal da sua amada. 
Mas ele nunca a amou, porque se amar não é perdoar, o que mais poderia ser?

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