terça-feira, 14 de maio de 2013

Um longo caminho em busca da minha verdade



Toda mudança é difícil, ainda mais quando ela mexe com toda a ideologia de uma vida. Acreditar que tudo que disseram a você desde o dia do seu nascimento é uma grande mentira é doloroso e complicado, e muitas pessoas preferem continuar acomodadas, quietinhas com suas crenças, sem querer conhecer o outro lado da história e, a partir de então, poder decidir, sozinhas, no que vão levar como verdade para o resto da vida. 
Minha vida corria muito bem, obrigada, até eu pôr na cabeça que alguma coisa estava errada. 
Até os catorze anos eu nunca tinha parado, realmente, para pensar na existência de Deus. Eu apenas a concebia como algo implícito. Se eu não tinha parado nem para pensar nela ainda, refutá-la, nessa idade, estava fora de cogitação.
Foi tudo acontecendo bem aos poucos. Eu sempre fui muito curiosa. Comecei a ler sobre outras religiões, coisa que me interessava, e ficava pensando em como os cristãos asseguravam a veracidade do cristianismo. Que fatos eles tinham? Um livro sagrado? Outras religiões também têm livros assim. Alguns com ensinamentos lindos, aliás. Na feira de ciências de 2011, falamos sobre a cultura oriental. O terremoto do Japão tinha sido coisa recente. Uma mulher que assistiu à apresentação dos grupos, que dentre os assuntos tratados falaram sobre o budismo (tenho a estátua do Buda até hoje aqui em casa, me custou uma pequena fortuna), falou que isso só acontecia com eles porque eles não tinham o nosso Deus. Ah, é claro, como o Brasil é predominantemente cristão aqui é um lugar maravilhoso, perfeito, sem maldade alguma, com pessoas que, inclusive, sabem respeitar a opinião alheia. 
O que aquela mulher disse me incomodou demasiadamente. Eu tinha criado uma espécie de vínculo com os asiáticos e os adorava de paixão, odiei ver aquela mulher menosprezado a religião deles daquela maneira, mas me mantive impassível. Se ela desejava algum tipo de concordância, ficou sem ela.
Como eu já disse, eu percorri um caminho lento para aceitar que eu não acreditava por completo naquilo que me diziam. Nunca tive a fé inabalável das pessoas da minha família e nem muito menos aquele fanatismo chato (sim, vamos concordar nesse ponto). 
Comecei a estudar com afinco as ideias de Darwin. Descobri que ele passou pela mesma coisa que eu estava passando. Criado tendo como base o cristianismo e sua crenças, Darwin tinha medo de mostrar ao mundo suas descobertas e só lançou seu livro, A Origem das Espécies, vinte anos depois de tê-lo escrito. Eu tinha medo de chegar na minha mãe e dizer que não acreditava em Deus. Mas isso não era o pior, eu tinha medo da ideia em si. Eu queria me forçar a acreditar, por muito tempo fiz isso. Me dizia católica por pura convenção, só para evitar comentários e surpresas. Coloquei toda a culpa dos infortúnios que me aconteciam na minha falta de fé. Era castigo, eu sempre dizia.
Eu juro que fiz de tudo para encontrar alguma faísca de amor divino em mim. Eu pedia por sinais, estava começando a ficar perturbada. Demorava a dormir, chorava de vez em quando. Eu me sentia errada, suja, pecadora e mais um monte de coisas.
Mas o que eu podia fazer se acreditava na ciência? No Big Bang, na evolução, na seleção natural? O que eu podia fazer se a ciência fazia muito mais sentido pra mim do que aqueles histórias bíblicas, escritas por pessoas que eu não sei quem foram? Não sei nem se elas estavam falando a verdade! Podiam estar fantasiando, aumentando as coisas como a gente sempre faz quando quer tornar uma história comum e banal em extraordinária.
Aos poucos, fui me encontrando. Não é errado ser quem eu sou, não é errado acreditar no que eu acredito. Cada vez mais fui me reconhecendo quando assistia a alguma discussão com o Richard Dawkins, lia Nietzche, assistia a House, via alguma entrevista com o Dr. Drazio Varella. Eles diziam sem medo algum aquilo que eu acreditava. Diziam tão facilmente coisas que eu tinha vergonha de confessar até a mim mesma! 
Finalmente eu tinha passado por uma das partes mais difíceis da minha vida. Consegui contar à minha família sobre minhas convicções. Foi uma espécie de revolução! "Luana? Quieta e boazinha do jeito que é?", eles diziam e eu descobri que até ateus têm um esteriótipo nesse mundo. Minha mãe ainda jura para ela mesma que eu estou passando por uma fase. Minha avó fez um escândalo, mas eu já imaginava isso. Minha tia disse que, quando eu me formar e começar a atender meus pacientes, vou mudar de ideia quando presenciar milagres, mesmo que não acredite em milagres atualmente. Para mim, não existem milagres, só coisas que a inteligência humana ainda não conseguiu decifrar.
As religiões, como um todo, são muito reconfortantes. Sinto falta disso, às vezes. Quando você cria uma entidade divina e deposita o peso de sua existência nas mãos dela, a vida fica mais fácil. Quando você acredita em milagres, esperar por algo melhor faz de você alguém mais feliz, mais esperançoso com relação à vida. Quando você crê em algo, a vida passa a ter um sentido.
A questão é: a vida não tem sentido. Somos tão importantes quanto qualquer outro ser, animado ou não. Não fazemos diferença alguma no universo. E isso dói tanto - pelo menos em mim -, é tão triste e horrível que é muito difícil sair da comodidade da sua linda religião, com seu Deus, Suas regras e Seu paraíso e abrir os olhos para realidade.
Isso me lembra o Mito da Caverna de Platão. O homem que consegue sair da caverna prefere lidar com a verdade do que voltar lá para dentro e continuar a vida apenas olhando sombras. 
Estamos no século XXI e hoje se tem liberdade para isso. Posso dizer, sem que a igreja me queime viva, que escolhi a verdade.

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