sábado, 3 de novembro de 2012

A peça que sobrou


Sou de outro século.
Sou do século em que as pessoas amam sem notar para perna e bunda, que não têm pressa e, por isso, dão tempo ao tempo. Sou do século em que conteúdo é levado em conta, que conversas são interessantes e que beijo é coisa séria. Sou do século em que se pondera muito antes de se relacionar com alguém, que roupas curtas não influenciam em nada e que magreza não é sinônimo de uma beleza estereotipada. Sou do século em que só olho no olho basta, não precisando-se de toque para ter a certeza de que é ali que você quer estar e que é ali que você ficaria para sempre. Sou do século em que existe o real Amor, o original, e não a cópia barata e banalizada de hoje. Sou do século em que os casais não se separam, que em vez de uma troca de beijos desesperados e sem sabor, troca-se poesias, troca-se abraços, confundem-se as almas de tanto se trocarem. Sou do século em que garotas como eu não são desesperançosas com relação ao amor, porque ele deveria valer a pena. Deveria. 
Mas o século de que sou não existe. E eu vivo me perguntando o que estou fazendo nesse mundo; eu, tão frágil, em meio a 7 bilhões de pessoas insensíveis que deram ao sentimento mais bonito desse mundo o valor que tem uma escova de dentes.
Aqui, eu me sinto desconexa. Como se eu fosse de algum jeito diferente - e estou realmente propensa a acreditar que sou totalmente. Como uma peça sobrando num quebra cabeça já completo. 
Então, volto a me perguntar: o que faço nesse mundo?
Às vezes acredito que vim com a missão de mudar. Essa peça - ou seja, eu - pode se moldar totalmente e tentar entrar em qualquer fresta do quebra cabeça e fingir que está feliz assim, ou pode desfazer todo ele para montar novamente, dessa vez diferente, do jeito certo.
Não deixo de achar a última alternativa digna de heróis, de pessoas extremamente corajosas e decididas, que, com muito esforço, mudaram toda uma ideologia. Coisa muito linda, mas para filmes. 
Queria muito me encaixar nessa de ser uma heroína e deixar o mundo perfeito, à minha maneira. Queria ser dessas capazes de morrer para propagar seus ideais. Todavia, essa não sou eu. Não é a Luana com quem convivo durante 15 anos.
De qualquer forma, futura heroína ou não, vou continuar com minhas loucas utopias. Se estou viva, é porque ainda tenho compromissos pedentes aqui. Quem sabe, não é mesmo? Às vezes a gente pensa que se conhece, só que não.

Um comentário:

  1. Acho que também sou desse século aí, ou pelo menos gostaria de ser. Você disse que hoje as pessoas dão ao amor o valor de uma escova de dentes. Eu discordo. Acho que hoje as pessoas comprariam mil "amores" com uma escova de dentes.
    Gostaria de viver em um Mundo onde essa banalidade e futilidade não existissem.
    Gostei do texto e estou seguindo o blog.

    Beijos,
    Natália - Pitorescamente

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