domingo, 8 de julho de 2012

Alegria de pobre... é para sempre

À tarde de um sábado calorento, seis pessoas estavam quase sufocando no banco de trás de um táxi, onde só deveriam estar três. Sim, três estavam no colo das outras três, batendo a cabeça no teto do carro quando este passava por uma lombada. Uma ia no banco da frente, indicando o caminho. A tia, mais velha, trazia nos olhos a alegria de uma criança, não parando de falar sobre as horas no shopping e o quão feliz é ser pobre. Não, ninguém da história é realmente pobre. Todos têm casa e comida. 
Porque se eu fosse rica, dizia, não seria tão feliz assim. E saiu dando exemplos de famosas que diziam não serem felizes. As pernas da pessoa do meio estavam dormentes com 46 quilos no seu colo. Mas só era lembrar da tarde para o sorriso voltar ao rosto. 
As sete pessoas, que pertenciam a mesma família, haviam se encontrado sem querer (porque pobre sempre se encontra, dizia a tia). Três tinham ido comprar algo, as outras quatro só para passear, tentando animar uma que estava doente. 
Cheias de sacolas, com um pacote enorme de fraldas na mão, um bebê no colo, sapatos que estavam incomodando, cadernos, guarda-chuva e jornais, as pessoas (a tia chamava de sem-tetos, mesmo) foram lanchar algo. 
Juntaram as mesas e riram até a comida chegar. Depois comeram enquanto riam. Ao acabar de comer, continuaram rindo, já que o garçom demorava a dar a conta. E rindo sobre o quê? Rindo sobre como pareciam retardados ao rirem. Riam de implicarem tanto uns com os outros, ou seja, riam de tanto se amarem. Porque a gente só implica com quem ama. "Olha aquela família de loucos!", não me admiraria se alguém apontasse e dissesse. Engraçada foi a parte em que uma pessoa tentava imitar um ataque alérgico para não pagar a conta. Não, ninguém fez isso. Só parecem não ter juízo, mas têm.
De barriga cheia, tiraram todas as sacolas, e fraldas, e bolsas e guarda-chuvas de onde tinham colocados e foram brincar, porque ninguém deixa de ser a criança que é ou foi um dia. Fizeram gols, bateram muito uns nos outros no carrinho bate-bate e quebraram o recorde de pontos no basquete em toda a história do estabelecimento (mas não ganharam nada por isso, talvez - e somente talvez - porque estavam jogando quatro pessoas onde deveria ir apenas uma só).
Nada mais para fazer, dinheiro já gasto, volte ao primeiro parágrafo e lembre do táxi. Muito simpático, aquele taxista. Todos dizendo veementemente que não cabiam sete ali, e ele dizendo que sim. E no fim coube. Muito apertado. Já disse que tinha gente quase sufocado? Exagero. Estava todo mundo muito bem, e muito feliz também. Porque eram pobres. Alegria de pobre é sem falsidade, é singela, é para sempre. E a mãe, que estava no banco de trás com seu filhinho de 2 meses no colo, logo apressou-se em alertá-lo:
"Se acostume, meu bem, essa é sua família agora".

Baseado em fatos verídicos. Desculpa se ficou confuso, foi só porque eu não quis citar nome de ninguém.
Amo vocês, família <3

4 comentários:

  1. Minha família também ri com tudo e se diverte com pouca coisa xD

    ResponderExcluir
  2. Ownn,lembrou meus antigos passeios em família que ficaram cada vez mais escassos.ao melhor da alegria de pobre é que ela não é muito exigente,portanto valoriza o que realmente importa nessa vida (alguma dúvida de que essa é a única forma de ser sábio ?) beijo

    ResponderExcluir
  3. Acho bonito como você conseguiu apreciar no presente, entende? É mais comum só dar valor depois que cada um foi pros eu lado. Família, tá aí uma coisa que eu admiro. Parabéns pela sua!
    Beijo

    ResponderExcluir
  4. Muito bonito o texto. Realmente, essas pessoas que dizem "alegria de pobre dura pouco" com certeza dizem da boca pra fora, a verdadeira alegria não precisa de nada que envolva dinheiro, risos, conversas bobas, tudo isso pode alegrar!

    Beijos <3

    ResponderExcluir