terça-feira, 31 de maio de 2011

Nem tudo tem sentido.

Quando qualquer um ligasse a TV, escutaria a mesma informação vinda de uma jovem jornalista, cabelos curtos e pretos, de microfone na mão, que falava sobre a mais nova notícia do bairro:
"O nome dela era Jannete Slow*, 27 anos, era solteira e morava de aluguel num dos quartos desta pensão há 2 anos. Trabalhava como supervisora de uma escola aqui mesmo neste quarteirão, em Chicago. Seu corpo foi encontrado hoje, às 11h da manhã, pois desconfiaram da moça, uma vez que ela não atendia nenhuma ligação. Ao que parece, arrombaram a porta do quarto e a encontraram sem vida no local. Supõe-se que Jannete tenha se matado amarrando um cordão no pescoço, depois de cortar o pulso várias vezes. Uma carta, supostamente escrita por ela, foi encontrada no local agora pouco. Seu conteúdo foi disponibilizado."

Queridas pessoas,
          Espero que não venham sentir muito a minha falta. Eu não valhia nada, pelo que dizem. Segundo a Jenny, eu era gorda apesar de só estar 4 quilos acima do peso. Para o Kenny, eu era ruim porque nunca dividia minhas pastilhas de hortelã. Para a Katy e para a Mary, eu precisava de um psicólogo, pois não sabia perder. Para o John, ah, para ele, eu só era mais um pedaço de carne ambulante. Para a Jessica, que sempre me dizia que a invejava em tudo, mesmo sendo a mais pura das mentiras. Para a minha mãe, meu pai e outros familiares, que, com certeza, achavam-me uma imprestável, e por isso me colocaram num orfanato. Para o dono dessa espelunca em que eu vivia que me deve achar a dona de um banco, porque me cobra até pelo litro de água excedente. Para a vizinha do 502, que não me deixava ligar o som no volume dez.  Para a dona do salão de beleza da esquina, que me chamava de desengonçada sempre que passava. Para a Maddi, que dizia sempre que me vestia como uma mendiga. Para a Susie, que implicava com o meu cabelo. Resumindo, para todos que me xingavam. Era só para isso que abriam a boca para pronunciar meu nome. Sorrir? O que é isso? Eu tentava sorrir sozinha, ser feliz sozinha, mas não deu. Sinceramente, qualquer lugar, é melhor que aqui. Fiquem felizes. Suas críticas serviram para alguma coisa. Você todos contribuíram, de forma direta, para minha morte.
Com sofrimento,
                    Minha ex-eu.
"Desconfia-se que a suicida tenha algum tipo de problema mental, ou ainda que a carta não tenha sido escrita por ela. Não se pode descartar a hipótese de um assassinato, embora todas as provas digam o contrário. Neste momento, o mais importante, é encontrar as pessoas citadas nas cartas. Todas deverão prestar depoimento."
*Tentei pensar num nome bem estranho, mas se alguém se chama assim, ou se o seu nome está na carta da Jannete... Sorriam, coincidências existem!

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